«Imaginem esta palavra phase, escripta assim: fase. Não nos parece uma palavra, parece-nos um esqueleto (...) Affligimo-nos extraordinariamente, quando pensamos que haveriamos de ser obrigados a escrever assim!»
Alexandre Fontes, A Questão Orthographica, Lisboa, 1910, p. 9.

terça-feira, outubro 30, 2012

Crónica de José Queirós

Os erros de escrita não são inevitáveis
(Cró­nica da edi­ção de 29 de Julho de 2012)

Provedor do leitor-Público

É com desa­grado e alguma frus­tra­ção que regresso ao tema dos erros de escrita que des­fi­gu­ram com lamen­tá­vel frequên­cia tex­tos publi­ca­dos neste jor­nal. Nunca vi grande uti­li­dade em fazer desta página um mos­truá­rio de dis­la­tes orto­grá­fi­cos e gra­ma­ti­cais e das falhas que estes põem a nu nos domí­nios da escrita, da revi­são e da edi­ção. Pouco espaço me sobra­ria, se o fizesse, para abor­dar outras ques­tões mais rele­van­tes, pró­prias do tra­ba­lho jor­na­lís­tico e da sua ética.
Não posso, no entanto, igno­rar as cons­tan­tes e jus­ti­fi­ca­das quei­xas de mui­tos lei­to­res, que pro­tes­tam con­tra os aten­ta­dos à lín­gua por­tu­guesa nes­tas pági­nas (em papel ou na Inter­net), reve­lando no tom mui­tas vezes irri­tado das men­sa­gens que me enviam um grau de exi­gên­cia sobre os requi­si­tos míni­mos de uma infor­ma­ção de qua­li­dade que infe­liz­mente parece não ser par­ti­lhado por todos os que escre­vem ou edi­tam o PÚBLICO.
Há mais de um ano, dedi­quei tex­tos suces­si­vos, neste espaço, a pro­cu­rar enten­der, em diá­logo com os lei­to­res e os res­pon­sá­veis edi­to­ri­ais, as cau­sas deste pro­blema, e a deba­ter solu­ções para o enfren­tar. É que se trata, con­vém sublinhá-lo, de uma ques­tão per­fei­ta­mente reso­lú­vel. Se um jor­nal com­ple­ta­mente livre de gra­lhas é algo que nunca terá exis­tido, se a ocor­rên­cia de alguns erros infor­ma­ti­vos nas peças publi­ca­das num diá­rio é ine­vi­tá­vel em qual­quer parte do mundo (importa é que sejam pron­ta­mente cor­ri­gi­dos), o con­fronto com asnei­ras no uso da lín­gua pode e deve ser intei­ra­mente pou­pado aos lei­to­res. É uma ques­tão de pro­fis­si­o­na­lismo e de orga­ni­za­ção, e é a obri­ga­ção incon­tor­ná­vel de um jor­nal de qualidade.
A direc­ção do PÚBLICO afirmou-se então cons­ci­ente das fra­gi­li­da­des paten­tes neste domí­nio e anun­ciou estar a pre­pa­rar medi­das para as cor­ri­gir. Sem sucesso, a ava­liar pelo que nos vai mos­trando a lei­tura diá­ria do jor­nal. Na minha per­cep­ção — natu­ral­mente sub­jec­tiva , na ausên­cia de uma con­ta­bi­li­dade rigo­rosa, mas coin­ci­dente com a dos lei­to­res que a este res­peito me inter­pe­lam —, a frequên­cia de erros de escrita tem mesmo vindo a agravar-se.
Vejam-se, a título mera­mente ilus­tra­tivo, alguns exem­plos recen­tes. Uma peça publi­cada há dias (edi­ção de 17.07) com grande relevo grá­fico come­çava com a frase “Pedi­ram a Sophie Calle que descreve-se, fisi­ca­mente, a sua mãe (…)” — isto a abrir uma repor­ta­gem con­si­de­rada sufi­ci­en­te­mente impor­tante para ser finan­ci­ada ao abrigo do pro­jecto mece­ná­tico Público Mais. Dois dias depois, no pri­meiro pará­grafo de uma notí­cia na edi­ção on line sobre a guerra na Síria, podia ler-se que é com o Ira­que que aquele país tem a fron­teira “de maior exten­ção” — o que levou o lei­tor Ricardo Ribeiro a ques­ti­o­nar “com que auto­ri­dade” o PÚBLICO divulga, “com uma frequên­cia con­si­de­rá­vel, arti­gos crí­ti­cos do sis­tema de ensino”. Registe-se que neste caso o erro foi cor­ri­gido (e a cor­rec­ção assi­na­lada) pouco após a publi­ca­ção de um comen­tá­rio crí­tico do mesmo leitor.
Tam­bém cor­ri­gido, mas dessa vez sem expli­ca­ções, foi um outro atro­pelo à lín­gua, logo denun­ci­ado por dois lei­to­res, na aber­tura de uma peça sobre os incên­dios no Algarve (edi­ção de 21.07). A frente do fogo, escreveu-se, teria “uma inten­si­dade infe­rior regis­tada nos últi­mos dias”. Se, para o lei­tor John Pal­lis­ter, “é cho­cante que um erro des­tes num cabe­ça­lho tenha esca­pado”, outros mani­fes­ta­vam o seu espanto na pró­pria caixa de comen­tá­rios à notí­cia. “Como pode um jor­na­lista con­fun­dir ‘há’ com ‘à’?”. Ou: “a sério que um jor­na­lista faz erros destes?”.
No dia seguinte, na edi­ção impressa, percebia-se que um jor­na­lista pode fazer ainda pior. Foi o que suce­deu na notí­cia sobre o fale­ci­mento de Helena Cidade Moura, em que o redac­tor pôs na boca do rei­tor da Uni­ver­si­dade de Lis­boa, citado entre aspas, uma refe­rên­cia ao modo como a peda­goga agora desa­pa­re­cida “inter­viu” na soci­e­dade. Tam­bém neste caso, o que pas­sara sem estre­me­ci­mento pelos fil­tros edi­to­ri­ais do PÚBLICO não pas­sou des­per­ce­bido a quem leu o jor­nal. Duas edi­ções mais tarde, sur­giu na sec­ção O PÚBLICO ERROU o desa­gravo devido ao rei­tor, “citado com um erro que, obvi­a­mente, não cometeu”.
Pior é quando nem as cha­ma­das de aten­ção dos lei­to­res levam a cor­ri­gir as inca­pa­ci­da­des de expres­são em por­tu­guês. Ainda ontem se man­ti­nham no Público Online, numa peça de finais de Maio inti­tu­lada “Filha de mili­o­ná­rios é presa por envol­vi­mento nos motins de Lon­dres de 2011″, vários erros de pal­ma­tó­ria, com des­ta­que para a asneira em dose dupla na frase “A juíza Patri­cia Lees subli­nhou as esco­lhas de Laura John­son que, nessa noite, quando um polí­cia ordenou-a para parar, car­re­gou com o pé no ace­le­ra­dor, ape­sar do agente estar à frente dela”. Tal como se man­ti­nham, apos­tos à notí­cia, inú­teis comen­tá­rios de pro­testo a que nin­guém na redac­ção terá dado impor­tân­cia. Ainda menos res­pei­tada foi a inter­ven­ção da lei­tora Maria José Gou­lão, que se queixa de não ter visto publi­cado o seu comen­tá­rio de crí­tica à medi­o­cri­dade desse texto.
Os exem­plos avul­sos que esco­lhi, entre os mui­tos para que me aler­tam os lei­to­res, não se expli­cam por dis­trac­ção ou momen­tâ­nea negli­gên­cia. Reve­lam igno­rân­cia, indi­ciam um domí­nio insu­fi­ci­ente dessa fer­ra­menta essen­cial a qual­quer jor­na­lista que é a escrita da sua pró­pria lín­gua. Por mui­tos méri­tos que tenha em outras ver­ten­tes da sua acti­vi­dade, um jor­na­lista que comete erros como estes é um pro­fis­si­o­nal incom­pleto no qua­dro de um jor­nal de refe­rên­cia, que sem­pre terá na qua­li­dade da escrita uma das con­di­ções para o ser ver­da­dei­ra­mente. O mínimo que deve esperar-se em rela­ção a redac­to­res que reve­lem essas vul­ne­ra­bi­li­da­des é que os seus tex­tos sejam objecto de aten­ção espe­cial nos pla­nos da revi­são e da edição.
Para tanto é neces­sá­rio, obvi­a­mente, que a impor­tân­cia de não dar à estampa erros cras­sos de por­tu­guês seja ade­qua­da­mente com­pre­en­dida nos vários níveis da hie­rar­quia edi­to­rial. E não o será por quem não tenha inte­ri­o­ri­zado que a indig­na­ção de um lei­tor do PÚBLICO perante as agres­sões à lín­gua é a mesma que ele pró­prio jus­ti­fi­ca­da­mente sen­tirá ao adqui­rir um qual­quer pro­duto defei­tu­oso que lhe é apre­sen­tado com o rótulo de “qualidade”.
É neces­sá­rio, tam­bém, que o exem­plo venha de cima, pondo fim aos sinais de negli­gên­cia que con­ti­nuam a sur­gir por parte de quem tem a última pala­vra na vali­da­ção de tex­tos e de pági­nas. É ina­cei­tá­vel a frequên­cia de falhas téc­ni­cas como, entre outras, a publi­ca­ção de peças a que fal­tam as últi­mas pala­vras ou linhas, de legen­das e ele­men­tos grá­fi­cos que ficam esque­ci­dos, de info­gra­fias que não batem certo com os tex­tos que acom­pa­nham, de excer­tos de prosa que são objecto de cor­rec­ção mas per­ma­ne­cem no texto cor­ri­gido, de títu­los em que erros de con­cor­dân­cia bem visí­veis sobre­vi­vem ao último olhar, como este da edi­ção do pas­sado dia 19: “Muni­cí­pio espa­nhola à espera do tribunal”.
Julgo, como disse atrás, que a frequên­cia de erros de escrita e de falhas de edi­ção tem vindo a acentuar-se. Mas há, neste campo, ao menos um sinal posi­tivo: tornaram-se mais comuns, e em geral mais rápi­das, as cor­rec­ções nos tex­tos do Público Online. Essa é uma melho­ria que supo­nho dever ser cre­di­tada, em boa parte, à inter­ven­ção atenta e gene­rosa de mui­tos lei­to­res, que recor­rem às cai­xas de comen­tá­rios para apon­tar erros que esca­pa­ram aos profissionais.
Valerá a pena acres­cen­tar que, tenham ou não ori­gem em cha­ma­das de aten­ção dos lei­to­res, essas cor­rec­ções devem ser sem­pre sina­li­za­das. O lei­tor José Orti­gão Oli­veira assi­na­lou um erro numa notí­cia do pas­sado dia 20 sobre o fale­ci­mento de José Her­mano Saraiva: escrevera-se que o antigo minis­tro da Edu­ca­ção fora “pro­cu­ra­dor às Cor­tes”, quando se pre­ten­de­ria infor­mar que inte­grara a Câmara Cor­po­ra­tiva do Estado Novo. A ano­ma­lia his­tó­rica terá tido ori­gem num des­pa­cho da agên­cia Lusa (foi aliás repro­du­zida em outros órgãos de comu­ni­ca­ção) e foi, no caso do PÚBLICO, rapi­da­mente detec­tada e cor­ri­gida. Porém, tendo o erro estado em linha, a cor­rec­ção deve­ria ter sido assi­na­lada, e não o foi. Quando esse pro­ce­di­mento não é seguido, tornam-se incom­pre­en­sí­veis as men­sa­gens de lei­to­res que per­ma­ne­cem nas cai­xas de comen­tá­rios, aler­tando para o erro no texto original.
José Quei­rós

Maciço e não massivo

"Jornal oficial nega existência de armas de destruição massiva" (TSF online)

A propósito da utilização do adjetivo "massivo" deixo-vos com os esclarecimentos de dois colaboradores do Ciberdúvidas.

Maciça é a forma feminina de maciço, adje(c)tivo de origem castelhana (“macizo”), que significa compacto, sólido, etc. Em Português significa ainda grande quantidade de alguma coisa, grosseiro, pesado, etc. Daqui se conclui que se justifica a expressão armas de destruição maciça. “Massiva” é a forma feminina do adjectivo “massivo” que constitui um neologismo na Língua Portuguesa. “Massiva” e “massivo” provêm do vocábulo inglês “massive”, que, por sua vez, tem origem nas palavras francesas “massif” e “massive”. Foi uma criação da língua francesa tendo por base a forma latina ‘massa’. Os franceses usam a expressão “bombardement massif”. A origem latina e neolatina da palavra “massivo” e “massiva” ajudaram à rápida entrada na Língua Portuguesa. Aqui no Ciberdúvidas temos várias respostas condenando este neologismo, uma vez que quer significar exa(c)tamente o mesmo que maciço. Pessoalmente, acho-o um neologismo aceitável.
Pelas razões apresentadas, também a expressão armas de destruição em massa é perfeitamente clara e está de acordo com a evolução semântica da palavra latina ‘massa'.

A. Tavares Louro:: 19/12/2003

 
Massiva está sempre errado. Este adjectivo é um galicismo condenável, dado que temos há muito, com o mesmo significado, o vernáculo maciço. Portanto: «armas de destruição maciça».F. V. Peixoto da Fonseca:: 03/04/2003

Imigrante vs emigrante

Os termos “imigrante” e “emigrante” têm significados opostos.
Imigrante é aquele que entra num país, emigrante é aquele que sai de um país.

 Para empregar o termo adequado, é necessário levar em consideração o ponto de referência.
Do ponto de vista de quem está em Portugal, imigrante é o estrangeiro que vem viver para o nosso país. Já o português que sai para viver noutro país é um emigrante.
 
 
 
Mnemónica simples: I entra E sai!
 
 

sexta-feira, outubro 05, 2012

Trinta e um; Trinta-e-um

Deixo-vos com a resposta obtida, no portal Ciberdúvidas, a propósito da locução "trinta-e-um!

«Trinta e um» e trinta-e-um

[Pergunta] Tendo em conta que, segundo o Acordo Ortográfico de 1990, nas locuções não se emprega em geral o hífen, gostaria de saber a razão da manutenção na palavra trinta-e-um.
Trata-se, ou não, de uma locução?
Cristina Fontes:: Professora :: Braga, Portugal
[Resposta] O Grande Dicionário da Língua Portuguesa (2010), da Porto Editora (com a aplicação do Acordo Ortográfico) regista unicamente a forma trinta e um sem hífen — indicando que é distinta da da «grafia anterior: trinta-e-um».
Assim, segundo esta fonte, trinta e um é a forma gráfica para designar os vários sentidos da palavra e as diferentes classes de palavras (nome masculino e numeral): «1. (n. m.) jogo cuja finalidade é perfazer trinta e um pontos ou aproximar-se de trinta e um pontos por defeito e nunca por excesso; 2. (n. m.) tumulto; revolta; 3. (n. m.) grande problema; complicação. 4. (num.) vinte mais onze; o número 31 e a quantidade representada por esse número; o que numa série ocupa o trigésimo primeiro lugar.»
No entanto, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (2009) e a Infopédia – Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora, registam duas formas distintas:
— o nome masculino de 2 números trinta-e-um (hifenizado), para designar o jogo de cartas;
— o numeral trinta e um (sem hífen).
Por sua vez, o Portal da Língua Portuguesa, da responsabilidade do ILTEC, contempla, também, a forma hifenizada do nome masculino trinta-e-um (invariável).
Perante estes registos, verificamos que há uma certa unanimidade da manutenção do hífen no nome/substantivo trinta-e-um1 (jogo de cartas), não havendo nenhum sinal de dúvida na grafia sem hífen do numeral cardinal trinta e um (tal como já o era na grafia anterior).
Nota: É de referir que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, também regista as duas formas: trinta e um (o numeral e o substantivo que designa «jogo do baralho») e trinta-e-um (espécie de ave). Portanto, só o nome de uma espécie zoológica é que é hifenizado, forma esta que respeita o ponto 3 da Base XV do AO: «Emprega-se o hífen nas palavras compostas que designam espécies botânicas e zoológicas, estejam ou não ligadas por preposição ou qualquer outro elemento: abóbora-menina, couve-flor, erva-doce, feijão-verde; bênção-de-deus, erva-do-chá, ervilha-de-cheiro, fava-de-santo-inácio, bem-me-quer (nome de planta que também se dá à margarida e ao malmequer); andorinha-grande, cobra-capelo, formiga-branca; andorinha-do-mar, lesma-de-conchinha; bem-te-vi (nome de um pássaro).»

1 A manutenção do hífen no nome masculino trinta-e-um deve-se, decerto, ao facto de se tratar de uma locução cuja grafia hifenizada se encontra já consagrada pelo uso (figurando entre as exceções), o que é previsto no ponto 6 da Base XV (do hífen em compostos, locuções e encadeamentos vocabulares) do Acordo Ortográfico que estipula o seguinte: «Nas locuções de qualquer tipo, sejam elas substantivas, adjetivas, pronominais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais, não se emprega em geral o hífen, salvo algumas exceções já consagradas pelo uso (como é o caso de água-de-colónia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa). Tal como já acontecia, a hifenização desta locução é a forma gráfica de se estabelecer a distinção deste nome do do numeral trinta e um (não hifenizado). Assim, consoante o seu valor/sentido e a classe de palavras a que pertence, assim a grafia é diferente. Exemplos:
«Estamos a jogar ao trinta-e-um
«Esta turma tem trinta e um alunos.»
Eunice Marta:: 12/06/2012

Nada a haver com isso

Lido... "nada a haver com isso".
O correto será "nada que ver com isso"  ou "nada a ver com" (estar relacionado).

Segundo o FLIP, «alguns puristas da língua têm considerado como galicismo a expressão ter a ver com, desaconselhando o seu uso. No entanto, este argumento apresenta-se frágil (como a maioria dos que condenam determinada forma ou expressão apenas por sofrer influência de uma outra língua), na medida em que a estrutura da locução ter que ver com possui uma estrutura menos canónica em termos das classes gramaticais que a compõem, pois o que surge na posição que corresponde habitualmente à de uma preposição em construções perifrásticas verbais»
 
A locução ter a ver com significa "ter relação com" e o verbo haver, presente na locução ter a haver, pode significar "obter, receber".
 
Atenção
  • A frase Ele não tinha nada a ver com o assalto é parafraseável por Ele não tinha relação com o assalto.
  • A frase Ele não tinha nada a haver com o assalto é parafraseável por Ele não tinha nada a receber com o assalto.
 
 

segunda-feira, maio 21, 2012

Geminada e germinada



Quem nunca leu uma placa com a seguinte indicação: «Vendem-se casas germinadas»?
A casa é GEMINADA (do latim geminare = duplicar) e não GERMINADA que vem de germinar, nascer, brotar

Prontuário AO de 1990

Mais uma obra de apoio.

Prontuário Ortográfico e Guia da Língua Portuguesa

 Com a entrada em vigor do novo Acordo Ortográfico, já adotado em Portugal no ensino básico e secundário, inúmeras obras de consulta vocacionadas para estudantes, estudiosos e usuários em geral da língua portuguesa tratam de adaptar-se à nova grafia. É o caso do Prontuário Ortográfico e Guia da Língua Portuguesa, de Magnus Bergström e Neves Reis, que, ao chegar à 50.ª edição, se apresenta em conformidade com a referida reforma.

A atualização ortográfica coube a Guilherme Ayala Monteiro e, na parte linguística, o trabalho da equipa da Universidade Nova de Lisboa foi coordenado por Maria Henriqueta Costa Campos.

segunda-feira, abril 02, 2012

Anos

Por vezes, ouvimos dizer que alguém tem "vinte e um ano" ou fez "trinta e um ano".
Na verdade, dever-se-ia dizer que fulano tem "vinte e um anos" e sicrano fez "trinta e um anos".
Trata-se de uma expressão que encerra um significado plural, isto é, o conjunto de anos que a pessoa tem.

sexta-feira, março 30, 2012

Meio-dia e meia

É comum ouvir-se a expressão "meio-dia e meio" para referir as 12:30 horas.
O correto será dizer "meio-dia e meia", pois não é «meio-dia e mais meio dia», mas sim «meio-dia mais meia hora».

sexta-feira, março 09, 2012

"Mais bem" e "melhor"


Às vezes, quando uso a expressão «mais bem», dou por mim a reparar na cara de espanto dos meus interlocutores. Sei que causa estranheza para muitos,mas vou tentar explicar o seu uso.
A maioria das pessoas opta por usar «melhor», por considerar uma solução mais correta ou, na dúvida, mais segura.
Vejamos:

1.      "Melhor" corresponde ao comparativo de superioridade do adjectivo “bom” e do advérbio “bem”. É uma forma irregular, tal como “maior” em relação a “grande.

2.      O adjectivo “bom” não admite a forma regular do grau comparativo e superlativo:
             Não podemos dizer “mais bom do que” nem “o mais bom”.
 
3.      O advérbio “bem” admite ambas as formas (“melhor” e “mais bem”) dependendo da frase.

3.1. Quando o advérbio “bem” modifica o verbo, deve usar a forma irregular do comparativo (melhor):
Ex.: Eu danço bem, mas o José dança melhor.

 3.2. Quando o advérbio “bem” modifica um adjetivo participial (que resulta do Particípio Passado de um verbo) já não deve flexionar no grau comparativo ou superlativo irregular:
Ex.: Apesar do José dançar melhor, eu estou mais bem preparada do que ele.

terça-feira, março 06, 2012

pôr do sol em Angola

Agora que o verão se despede dos trópicos, os angolanos adoram abrir a geleira, tirar uma Cuca geladinha e comer ginguba à beira-mar!

Quem discute a beleza e a variedade da língua portuguesa com base num mero acordo ortográfico (sublinho ortográfico), não percebe que a língua é muito mais que uma convenção gráfica.


estória ou história

Ontem, alguns alunos ficaram surpreendidos por ter escrito a palavra "estória" em vez de "história". Pois bem, nos dicionários encontramos as duas entradas, mas prefiro a primeira para designar uma narração.
Vejam as definições encontradas na infopédia .

estória: nome feminino
história de carácter ficcional ou popular; conto, narração curta
(De história, ou do inglês story, «id»)

história: nome feminino
1. evolução da humanidade
2. narração crítica e pormenorizada de factos sociais, políticos, económicos, militares, culturais ou religiosos, que fazem parte do passado de um ou mais países ou povos
3. sucessão natural desses mesmos acontecimentos
4. ramo do conhecimento que se ocupa do estudo do passado, da sua análise e interpretação
5. estudo da origem e do progresso de uma ciência, arte, ou área de conhecimento
6. narrativa; conto
7. biografia
8. LINGUÍSTICA conjunto das ações e das situações representadas num texto narrativo;

segunda-feira, março 05, 2012

A Vírgula

Anúncio sobre a liberdade de imprensa que mostra como uma simples vírgula pode alterar a história. Agência: Africa Sao Paulo Publicidade Ltda. Produtora: Visorama Diversões Eletrônicas Áudio: Sonido Produções Musicais

Tolerância de ponto ou tolerância de ponte

Agora que o Carnaval já lá vai e a "tolerância de ponto" também, relembremos um erro muito comum.
Quem nunca ouviu dizer "tolerância de ponte" em vez de "tolerância de ponto"?

Creio que a confusão ocorre porque é costume chamar-se "ponte" à ligação entre um feriado e um fim de semana, em que alguns (generosos) patrões  concedem folga aos seus funcionários, ou seja, "tolerância de ponto".
Esta expressão tem a sua origem nos "livros de ponto"onde os funcionários registavam as suas horas de entrada e saída do emprego (antes dos computadores e dos cartões...de ponto). A "tolerância de ponto" dispensava-os de assinar os livros durante um período estabelecido pela entidade patronal.

Trocar ou destrocar?

Mesmo em época de crise,por vezes precisamos de converter uma nota em moedas, não é?
Será que deveremos dizer:
 "Trocas-me esta nota?" ou  "Destrocas-me esta nota?"

Nesta altura, já todos se consciencializaram de que dizem várias vezes "destrocas-me", certo?

No entanto,  devemos usar o verbo trocar porque destrocar significa "desfazer uma troca".

- Trocas-me esta nota por moedas?
- Vou destrocar esta compra. (Anular a troca anterior)


Fim de semana (outra vez)

Como não fiquei convencida com a primeira explicação sobre " fim de semana" fui procurar outras explicações. Encontrei esta no Ciberdúvidas.

[Resposta] As palavras fim de semana, cor de vinho ou fios de ovos continuam a ser compostos.
Se o hífen não é critério para distinguir palavras derivadas de palavras compostas (infeliz vs. guarda-roupa, mas pré-história, com prefixo), então também não o deve ser para rejeitar fim de semana como palavra composta. Por outras palavras, há expressões que contêm elementos de ligação, não têm hífen e são também compostos — morfossintáticos, como neste caso. Note-se que o próprio Dicionário Terminológico apresenta como composta uma expressão sem elemento de ligação como via láctea (muito embora se trate de palavra tratada como nome próprio, que exige maiúsculas iniciais: Via Láctea — cf. Dicionário Houaiss).
Esta situação dificulta, sem dúvida, o reconhecimento de tais compostos, porque passam a confundir-se com outras expressões que não se usam como unidades lexicais, mantendo a sua composicionalidade (isto é, a autonomia semântica dos seus elementos; cf. pôr do sol, palavra composta vs. «livro do rapaz», expressão constitutiva de um grupo nominal em «o livro do rapaz caiu ao chão»).
Sei, contudo, que a prática lexicográfica (ver Dicionário Houaiss de 1999) leva a que estes compostos que incluem preposições não tenham entrada própria, mas apareçam como subentrada de uma das palavras constituintes: ou seja, o composto fim de semana encontra-se no verbete correspondente a fim ou a semana. Não é assim, porém, que o Vocabulário Ortográfico do Português os elenca, antes lhes atribuindo entrada própria.
Em suma, os compostos não hifenizados que incluam preposições ou outros elementos de ligação (pôr do sol, dia a dia) e não designem espécies botânicas ou zoológicas são palavras compostas. Em contexto escolar, será, pois, necessário ter em conta que há compostos que, por se escreverem sem hífen, se confundem com grupos sintáticos.

Carlos Rocha:: 10/02/2012

Agradeço a vossa ajuda para melhor compreender este assunto tão polémico!

sábado, março 03, 2012

Publicações sobre o Acordo Ortográfico de 1990

Descarregue para o seu computador cinquenta documentos (apresentações, textos, brocuras) sobre o novo Acordo Ortográfico.
SuperBiblioteca de Ebooks sobre o Acordo Ortográfico - Edição Portugal

Neste momento estão disponíveis duas edições da SuperBiblioteca:
- a
edição 'Portugal' e
- a
edição 'Brasil'

Pode também quererer consultar:
Acordo Ortográfico - guias e utilidades

ERREI - fim de semama

Como alguns dos leitores sabem, a gramática mudou. A chamada Gramática Tradicional deu lugar ao Dicionário Terminológico - DT - (tendo passado por duas versões da TLEBS - Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário).

No campo da morfologia, houve uma mudança radical no que toca à formação de palavras por composição. O que antes se chamava aglutinação e justaposição, dá pelo nome de composição morfológica e morfossintática, sem, contudo, haver uma correspondência entre os termos antigos e os novos.
Vejamos: No DT, a composição é descrita como o processo morfológico de formação de palavras que recorre à associação de duas ou mais formas de base. Em português, há dois tipos frequentes de composição: a composição morfológica e a composição morfossintáctica. (Cliquem nas hiperligações para mais informações.)


  • Composição morfológica é, pois, o processo de composição que associa um radical a outro(s) radical(is) ou a uma ou mais palavras. De um modo geral, entre os radicais ou o radical e a palavra associada ocorre uma vogal de ligação.
Exemplos
[agr]+i+[cultura] = [agricultura], [luso]+[descendente]= [lusodescendente], [psic]+o+[pata]

  • Composição morfossintática é, por outro lado, o processo de composição que associa duas ou mais palavras. A estrutura destes compostos depende da relação sintáctica e semântica entre os seus membros, o que tem consequências para a forma como são flexionados em número.
Exemplos
As palavras [surdo-mudo], [guarda-chuva] ou [via láctea] são compostos morfossintácticos.

NOTA: Em ambos os casos, o significado dos radicais ou das palavras que compõem a palavra mantém-se.

Ex: lusodescendente
luso + descentente
Se procurarmos no dicionário o significado do radical "luso" e o da palavra "descendente", encontramos: português + que descende, pelo que podemos inferir o seu significado facilmente - alguém que descende de portugueses.

Mas...
Se procedermos da mesma forma para a palavra amor-perfeito, o mesmo não se verificará.
Amor = afeto, adoração + perfeito = sem defeito, exemplar
Este significados não refletem em nada a plantaherbácea com flores de corola larga de várias cores a que no queremos referir.

Por isso...
Palavras como "malmequer", "claraboia", "língua da sogra", " fim de semana" em que não é possível deduzir o seu significado a partir dos elementos que as constituem são. palavras com estrutura complexa, mas que, quanto ao significado, se assemelham a palavras simples.

Qual foi o meu erro, afinal?
Quando expliquei que "fim de semana" era uma locução e que, com o novo Acordo Ortográfico, perdia os hífens, classifiquei-a de composto morfossintático.
Nesta perspetiva, tratar-se-á de uma palavra simples ou de um composto? Na TLEBS falava-se em palavras lexicalizadas!

sexta-feira, março 02, 2012

Erros na TV

Infelizmente, a TV também erra.
No monitor lê-se «esterno» em vez de «externo».
Se consultarmos o dicionário Priberam online, ficamos a saber:
Esterno |é|
(grego stérnon, -ou, peito)   
s. m.
1. [Anatomia]    Osso ímpar situado na parte anterior do peito, e em que se articulam as costelas e as clavículas.
2. [Zoologia] Linha média e inferior do tronco dos ..insetos.


 Externo |eis|
(latim externus, -a, -um, exterior, estrangeiro, estranho)   
adj.
1. Que é de fora. = EXTERIOR
2. Que aparece exteriormente.
3. De país estrangeiro ou relativo ao estrangeiro.
4. Que se aplica por fora.
5. [Figurado] Fingido; aparente.
s. m.
6. Aluno que não dorme nem come no colégio que frequenta.ta.
ângulo externo: o que tem o vértice para dentro.

Hás de

Um erro muito frequente no discurso oral é  a expressão *«hádes», em vez do correto «hás de» (agora sem hífen).

Trata-se de o verbo «haver», conjugado com a preposição «de».


Costumo aproveitar o erro para brincar um pouco e explicar que Hades (ou Plutão) era o deus do mundo subterrâneo, destino final dos mortos!

terça-feira, fevereiro 28, 2012

aderência e adesão

Com as greves, vêm os erros!
São várias as vezes que oiço e leio a palavra «aderência» em vez de «adesão».

«Aderência à Greve Geral!» no blogue Comunistas Portugueses,  acedido a 28/02/12.

«Como já é tradição, ontem à noite deu-se uma guerra de números relativamente à aderência à greve. A disparidade variava entre 14% e 80%.» no speaker's corner, acedido a 28/02/12.

«Greve no centro hospitalar regista 16% de aderência. Publicado em 2004-08-06 » JN online, acedido a 28/02/12.

«Foi patética a sua reacção à greve como é patética a sua reacção aos ... mediaticamente exemplificada com a grande aderência à greve»  no blogue Abrasivo, acedido a 28/02/12.

Deixo-vos com um artigo de Maria Regina Rocha, publicado no Ciberdúvidas,  sobre as diferenças entre estes dois vocábulos.

As palavras adesão e aderência são muitas vezes consideradas sinónimas, pois ambas exprimem a ideia de ligação. Utilizam-se, no entanto, em contextos diferentes.
Por exemplo, deverá dizer-se «a adesão do público português aos filmes», e não “a aderência do público aos filmes”.
O termo adesão é utilizado normalmente em relação a pessoas, enquanto a palavra aderência se utiliza em relação a coisas, a substâncias.
A palavra adesão tem o significado de «união», «junção», «acordo», «aprovação», «manifestação de apoio ou de solidariedade», «ligação ideológica», podendo ser utilizada em expressões deste género: a adesão a um tratado, a adesão a uma doutrina ou a um princípio, a adesão a um modo de vida, a uma ideia, a um partido político, a adesão a uma moda, a adesão aos filmes, ao teatro, à literatura. No conceito de adesão está presente o pensamento, a vontade, o sentimento de quem adere, de quem aprova, de quem escolhe.
A palavra aderência designa a «qualidade do que é aderente», o «acto de aderir», a «ligação de superfícies», a «ligação de uma substância a outra», podendo ser utilizada em expressões deste género: a aderência dos pneus à estrada, a aderência da argila ao arado, a aderência da sujidade à pele, a aderência do pó aos móveis. A palavra aderência utiliza-se, pois, quando se pretende designar alguma substância ou matéria que está aderente a algo, ou referir uma ligação concreta, material, normalmente de pouca solidez ou que se pode vir a separar.
Estou a referir os significados comuns dos termos, exceptuando os dos contextos científicos e técnicos da Biologia, Medicina e Física, em que estes termos têm significados específicos.
Estas palavras são provenientes de duas palavras latinas formadas a partir do mesmo verbo latino, o verbo ‘adhaerere’, que significava aderir. Em português, aderência começou por significar “favor”, “favorecimento”, “valimento”, “protecção”, sendo no século XIX por vezes utilizada no sentido de “apego a algo” como a crenças, ideologias, seitas, mas passou a usar-se relativamente às ligações materiais, às ligações de substâncias. Os dicionários actuais, aliás, registam esse valor antigo do termo, porque presente ainda em textos modernos, como os de Almeida Garrett.
Quanto à palavra adesão, ela sempre designou uma ligação forte ou uma vinculação a ideias, princípios, causas.
1. Aderência provém de ‘adhaerentia-’ (que significava «ligação», «aderência»), originária do verbo ‘adhaereo’, do particípio presente, ‘adhaerens’, ‘adhaerentis’. E o verbo ‘adhaereo’ latino significa «estar ligado a, ficar fixo em, ficar aderente a»; «estar contíguo»; «parar, não avançar». Assim, esse particípio presente significaria «estando ligado a», «aderente». Daí a pouca firmeza da ligação denominada de aderência.
2. Adesão provém do latim ‘adhaesione-’. Trata-se do acusativo do substantivo ‘adhaesio’, ‘adhaesionis’, também formado do verbo ‘adhaereo’, mas do particípio passado ‘adhaesus’, que significava «aderido», «aquilo que aderiu, que se fixou». A adesão é, assim, originariamente, mais sólida e persistente que a aderência.

Concluindo, deverá, então, dizer-se, por exemplo, «a aderência da tinta à madeira», mas «a adesão de alguém a uma causa».


 

Dias da semana

Por vezes, ouço pessoas a dizer que, com o AO de 90, os dias da semana passarão a escrever-se com minúscula. Ficam algo desconfiadas quando lhes digo que não. Já eram escritos com minúscula.


Em nota de rodapé, conto-vos que houve alguém que me disse que já sabia que eram escritos com minúscula, exceto domingo, pois era dia santo. Perguntei-lhe, então, o que diriam os mulçumanos e os adventistas do sétimo dia??? 


Outras notas:
a) não perdem o hífen (segunda-feira, terça-feira...);
b) Quando iniciam a frase, usa-se a maiúscula.

Exercícios interativos

Descobri estes exercícios interativos muito interessantes. Clique sobre a imagem para abrir a hiperligação.

domingo, fevereiro 26, 2012

Pergunta do dia

— Antes da mudança ortográfica, escrevia-se «acta». E agora?

R: Escreve-se «ata» porque o «c» não se pronuncia.

Mais um artigo interessante

Retirado do Ciberdúvidas

A impunidade do desacordo ortográfico *

João Tiago Silveira **


Ainda a querela à volta da suspensão do Acordo Ortográfico, no Centro Cultural de Belém, neste artigo de um dos membros do Governo português que legislou a entrada em vigor da nova grafia nos organismos oficiais do país. Artigo publicado no semanário Expresso de 25/02/2012.


O recém-nomeado presidente do Centro Cultural de Belém (fundação criada pelo Estado) instruiu os seus serviços para não aplicarem o Acordo Ortográfico e retirarem os respetivos conversores dos computadores. Já se sabia que Graça Moura era um convicto opositor do Acordo Ortográfico. Está no seu direito. O que não se sabia é que um presidente de uma fundação criada pelo Estado, nomeado pelo Governo, pode desrespeitar impunemente as opções legítimas e democráticas do Estado português.
Tenta-se disfarçar as convicções pessoais numa amálgama de argumentação jurídica apressada. Mas que fique claro: é evidente que o Acordo já entrou em vigor, tanto na ordem jurídica internacional, em 1 de janeiro de 2007, como na ordem jurídica portuguesa, desde 13 de maio de 2009 (basta ler o Aviso n.º 255/2010, de 13/9). Em conformidade, o Estado definiu um calendário para a sua introdução, prevendo um período de adaptação de 6 anos. Trata-se de um período destinado a progredir na aplicação do Acordo e não a regredir, como sucede com a decisão do presidente do CCB. Em qualquer caso, nos termos desse calendário, todas as entidades administrativas devem aplicar a nova grafia desde 1 de janeiro de 2012.
Não aceito, nem como cidadão nem como contribuinte, que o presidente de uma instituição criada por entidades públicas e nomeado pelo Estado possa gerir essa instituição de acordo com as suas convicções privadas. Uma coisa é não querer escrever segundo o Acordo, outra é proibir uma instituição de raiz pública de cumprir o que foi legitimamente determinado pelo Governo e está publicado em Diário da República.
Ainda mais incompreensível é o silêncio do Governo. Quis o primeiro-ministro disfarçar a despromoção da Cultura na orgânica do Governo com a garantia de que essa área ficaria na sua dependência direta. Pois essa opção tem consequências: Passos Coelho responde pelas nomeações na área da Cultura (e Vasco Graça Moura é uma delas) e tem especiais responsabilidades sobre a política da língua e o que se passa no CCB. Perante isto, não pode ficar-se pelas frases habituais, cheias de “evidentementes”. Impõem-se algumas perguntas: vai o Governo revogar a Resolução de Conselho de Ministros n.º 8/2011, de 25/1, dispensando as entidades públicas de aplicar o Acordo Ortográfico? Vai alterar o que está a ser feito nas escolas, onde já se ensina segundo as novas regras? Vai republicar os Diários da República já publicados conforme o Acordo Ortográfico? E vai revogar a nomeação de Graça Moura (aliás escrita nos termos do novo Acordo) ou vai reescrevê-la à moda antiga? Bem sei que o tema do Acordo Ortográfico suscita ânimos, paixões e ódios. Mas não se podem admitir atitudes terroristas de quem não concorda, nem hesitações de quem tem responsabilidades.
Acresce que o consenso político em torno do Acordo não pode disfarçar a responsabilidade dos governos do PSD: foi com Cavaco Silva e Santana Lopes que, em 1990, o Acordo foi estabelecido (a conselho técnico de reputados linguistas à época). E foi com um Governo PSD/CDS (estava também Bagão Félix no Governo…) que se negociou o Protocolo que facilitou a sua entrada em vigor. Por muito que alguns estejam viciados em responsabilizar o Governo socialista por todos os males do mundo, não é possível falsear a história.
Mas há nesta questão, além de tudo o mais, um problema de autoridade democrática do Governo. Um precedente como este pode levar-nos muito longe: um republicano convicto, nomeado para um cargo público, poderá invocar as suas convicções privadas para desrespeitar a inqualificável eliminação do feriado de 5 de outubro na entidade que dirige?

* Artigo publicado no semanário Expresso de 25 de fevereiro de 2012 :: 25/02/2012

Sobre o Autor

** Docente universitário português, ex-secretário de Estado da Justiça e da Presidência do Conselho de Ministros

segunda-feira, fevereiro 06, 2012

Acordo Ortográfico em vigor

Artigo do Ciberdúvidas

Acordo Ortográfico em vigor em Portugal
desde 13 de Maio de 2009

acordoA data da entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1990 (AO 1990) em Portugal suscitou muitas dúvidas ao longo do corrente ano. O Aviso n.º 255/2010 de 13 de Setembro, do Ministério dos Negócios Estrangeiros português, vem esclarecer a situação: o novo acordo começou a ser aplicado em 13 de Maio de 2009, em resultado do depósito do instrumento de ratificação do Acordo do Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, conforme previa o n.º 2 do art.º 2 da Resolução da Assembleia da República n.º 35/2008 e o n.º 2 do art.º 2 do Decreto do Presidente da República n.º 52/2008.
Esta data marca também o princípio de um período de transição de seis anos, em que coexistem em Portugal o Acordo de 1945 e o AO 1990. Findo esse prazo, a ortografia constante de actos, normas, orientações ou documentos provenientes de entidades públicas, de bens culturais, de manuais escolares e outros recursos didáctico-pedagógicos, com valor oficial ou legalmente sujeitos a reconhecimento, validação ou certificação deverá conformar-se às disposições do novo acordo (consultar legislação já referida).
Assinale-se que a adopção da nova ortografia pelo sistema de ensino português está prevista para o ano lectivo de 2011/2012. O mesmo deverá acontecer nos próximos tempos nos textos publicados no Diário da República, que, neste momento, ainda conserva a ortografia antiga.

domingo, fevereiro 05, 2012

Para quem estiver interessado em saber mais sobre a razão deste e de outros acordos ortográficos (e reformas) aconselho a ler com atenção.
Entrevista a Carolina Michaëlis de Vasconcelos de 1911 (Republicada nos «Cadernos do Centenário» de O Primeiro de Janeiro, em 1968).
I - Existe ou não, ortografia portuguesa, oficial e uniforme?
A Em Portugal não há, nem houve nunca, ortografia oficial, uniforme. Só ortografias variadas, mais ou menos sensatamente regradas pelo costume e exemplo de bons autores, ou mais ou menos inçadas de erros, contradições, dislates, caprichos e idiossincrasias pessoais. Esse estado anormal foi tomando proporções de verdadeira calamidade nos últimos decénios do século passado; desde que romanistas que ex-ofício estudaram cientìficamente a literatura e a língua nacional - glotólogos, gramáticos, lexicógrafos, etimologistas como F. A. Coelho, J. Leite de Vasconcelos, o já falecido Vasconcelos Abreu, Aniceto dos Reis Gonçalves Viana, Júlio Moreira, Epifânio Dias, Cândido de Figueiredo - começaram a expurgar a escrita de defeitos inveterados, regularizando-a e simplificando-a pouco a pouco metòdicamente, processo que levou uns a adoptar algumas das emendas e inovações, rejeitando aquelas que menos lhes agradavam, e outros a complicar a sua, cada vez mais, por espírito de oposição ou tendências conservadoras, com exajeros pretensamente etimológicos. Houve e há escritores que na mesma estrofe de um poema, na mesma página de um romance nos apresentam formas híbridas e contraditórias, meio reformadas ou inteiramente reformadas, como mytho e rythmo; melancólico e eccho; aflito e fructo; próximo e proprio; sería e Maria; Quiz e mês; allucinante e captivante; outominal e insónia. Uma confusão magna!
II - Seria conveniente que a ortografia fosse oficialmente regularizada e simplificada?
  Conveniente e urgente, tanto do ponto de vista científico, como no estético, e, sobretudo, no pedagógico.
Num país atrasadíssimo quanto à instrução e educação, em que quatro milhões estão à espera dos benefícios da luz espiritual, o que importa é facilitar o ensino da leitura e escrita; acabar com todas as complicações desnecessárias; eliminar todos os artifícios eruditos; abreviar a aprendizagem de sorte que os professores ganhem tempo para realmente fertilizarem as almas com noções sólidas de saber e as boas doutrinas cívicas da solidariedade social, do pacifismo e do altruísmo. Por que (será preciso lembrá-lo?) o ensino elementar da leitura escrita não é fim, mas apenas meio, indispensável para o desenvolvimento da faculdade de pensar, raciocinar, julgar, protestar, e emendar o que encontramos de imperfeito e obnóxio no nosso caminho: faculdades, sem as quais não pode haver verdadeira liberdade.

Quanto aos estrangeiros, também lucrarão com reforma. A enfadonha anarquia ortográfica tornou até hoje pouco apetecido o estudo do português, já em si muito mais espinhoso do que o das outras línguas neo-latinas, por causa das subtilezas da sua pronúncia e da sua morfologia. De ciência certa sei, por quanto tempo a falta de regras seguras sobre recta pronúncia e escrita correcta, e a falta de boas edições de textos impediu por completo, ou embaraçou inùtilmente, a publicação de manuscritos importantes e de estudos, aliás notáveis, relativos à admirável língua de Camões.

Com relação à estética e à ética, bastará perguntar, se a ordem, a disciplina é, ou não, mais bela do que a desordem e a anarquia? A coerência preferível à incoerência? A simplicidade superior a enfeites e arrebiques supérfluos? Se é verdade, ou não, que as deficiência gráficas do português lhe darão ares de inculto; em especial, se o compararmos com outras línguas? A ortografia francesa é incomparàvelmente mais complicada e mais defeituosa do que a portuguesa; mas pelo menos está (como a inglesa e a alemã) frisada com rigor; tem sistema pelo qual todos se regulam. A castelhana e a italiana, pelo contrário. - Os idiomas, portanto, que são mais ìntimamente aparentados com o português - possuem há mais de um século ortografias excelentes, simplificadas racionalmente pelas respectivas Academias.

Equiparar a nossa a essas duas, seguindo mutatis mutandis os mesmos princípios que nelas deram óptimo resultado, regularizar e simplificar, baseando-nos na história cientìficamente estudada do vocabulário nacional - eis o que convém fazer

III - Qual é a causa das anomalias da escrita portuguesa?
Causadora das anomalias que deturpam a escrita portuguesa é (se abstrairmos das dificuldades resultantes da complicada fonologia da língua, com seus sons nasais, ditongos puros e nasais, cinco ee, quatro aa, três oo de valor ora aberto, ora fechado, ora reduzido) a tendência etimológica, erudita, artificial, conservadora - em oposição aberta à natural, popular e progressiva tendência fonética das verdadeiras ortografias, como transcrição dos sons realmente proferidos na pronúncia normal das classes cultas.
Tentarei explicar em poucas palavras de onde provêm, històricamente.

A principal fonte da língua portuguesa é o latim, como todos sabem. Não o latim literário. O latim vulgar, tal como pronunciavam no território lusitano já alijado de certas demasias atávicas ou aristocráticas. Os numerosíssimos vocábulos que constituíam o léxico primitivo dos Luso-Romanos passaram por evoluções sucessivas que, quanto à forma, as modificaram mais ou menos segundo as leis naturais, uma das quais é a do mínimo esforço. Sobrepostas a esta larga e espessa camada popular, que constitui a parte principal, verdadeiramente nacional e modelar da língua, há (além de vocábulos de origem germânica e arábica, etc.) diversas camadas de palavras, tiradas pouco a pouco por especialistas do léxico literário greco-latino, em pelo menos três épocas diversas: Idade Média, época do Renascimento, e tempos modernos. Termos técnicos, científicos, e termos poéticos altissonantes; mas também termos triviais; novos, em muitíssimos casos, e em outros casos idênticos aos que já existiam alterados no núcleo popular, p. ex. palácio ao par de paço; legítimo ao par de lídimo. Palavras divergentes, na terminologia dos romanistas.

Nas palavras populares, herdadas de origem evolutiva, houve sempre e há em regra, ortografia fonética, quer elas se afastem sensìvelmente dos padrões originais, quer não se afastem nada ou quase nada em virtude da sua estrutura singela (rosa, casa; mês a mês). Escreve-se o que se profere, tão perfeita ou imperfeitamente como o admitem os vinte e cinco caracteres do alfabeto também herdado.

Nos primeiros monumentos artísticos da literatura - nas cantigas de amor e de escarnho dos trovadores (de 1200 a 1350) em que mal há vocábulos eruditos (apenas alguns provençalismos e galeguismos) não há, por isso mesmo (no códice membranacio da Ajuda) senão grafias fonéticas como ome, oge, aver, sono, dano, santo, pronto, meter, falar, calar, nacer, crecer, decer. Quanto a u medial há todavia oscilações; provàvelmente por haver oscilações na pronúncia.

Das palavras eruditas, extraídas do dicionário latino e do helénico, não alteradas na boca do vulgo quanto ao sentido, nem quanto à forma, ou apenas levemente aportuguesadas, de índole conservativa, essas entraram, quase estacionárias, com todas as letras dos originais na prosa de notários, eclesiásticos, arqueólogos, historiadores e especialistas (do tempo de D. Dinis em diante), e também nos versos dos poetas áulicos do século XV. Mesmo com letras que em Portugal nunca tiveram função primitivamente sua, e com grupos de letras que não se encontram em dicções herdadas, a não ser abusivamente. Nelas é que figuram os sinais exóticos yy th ph rh gh; muitos hh; os grupos mn gm gn ct pt güe gëe; pp bb gg cq, e outras consoantes dobradas, supérfluas. Mesmo em bastantes das que desceram ao domínio do vulgo, sendo assimiladas às de feições populares na pronúncia (p. ex. pela eliminação de c antes de consoante e ensurdecimento das vogais átonas), a grafia conservou-se inalterada, p. ex. em víctima, victória, tractar, práctica, satisfação.

A par desses termos, de introdução artificial mas antiga, há muitos outros mais modernos, de significado mais erudito, em que p. ex. a pronúncia alfabética dos grupos de consoantes, não toleradas no património verdadeiramente nacional, se tornou facultativa, v. g. em significado, consignar, diccionário, occidente, espectáculo, respectivo, técnica, facto, secção, equidade, equivaler, bilingue. E finalmente há uma camada de vocábulos, de introdução recente e sentido científico tão restrito que nunca serão familiares à maioria dos que falam, em que por hora é praxe geral proferir todas as letras, consoantes e vogais, com os seus valores alfabéticos: aerhemotoxia, glyptognosia, etc. etc.

Pois bem: o costume de encontrar símbolos exóticos (ph rh y) e letras supérfluas em dicções relativas a ciências e artes, empregadas de preferência pelos mais ilustres da nação, levou todos quantos tinham pretensões de cultos - e onde está escritor que as não tenha? - não só a conservar cuidadosamente esses vestígios de origens nobres, mas também a reintroduzir símbolos exóticos e letras supérfluas em dições vulgares, de onde sempre estiveram banidos, durante séculos de vida literária. P. ex. em somno, damno; signal, dicto, fructo; escripto; sancto, pronpto, poncto; descer; nascer; sysne, lagryma; golphinho; exgottar; exforço; sexto; extrangeiro; crescer, nascer; sciente.

Em algumas palavras alteraram mesmo a pronúncia, segundo o tipo latino; ora sensatamente como em menos, menor, feno, pena (em vez de mêos, mêor, fêo, pêa), magno (para evitar confusão com mano), ora inùtilmente como em digno.

Por falsa analogia letras mudas entraram mesmo em palavras onde elas não têm razão alguma de figurar, v. g. em thesoura (por causa de thesouro?), ensignar (por causa do alatinado signal); occeano, como se tivesse relações de parentesco com occaso, occidente, eivando-se assim a parte vernácula do idioma com formas fantasiosas, como theudo, mauthendo, Santhiago e a parte alatinada e helenizada com barbarismos, como ethymologia, lythographia, photografia, physyognomia, philosophia; philharmonica, dymnastia, dymnastica (por causa de gymnastica).

Caturrices como cognoscer por conhecer, quomo por como, ochlos por olhos, hacte por até, ipso por isso - obras do benemérito antiquário André de Resende - não vingaram felizmente. Não tão pouco a proposta de se substituir é aberto por æ!

Tudo isso - repito - com o pretexto de conservar vestígios visíveis de ilustres prosápias, ou conforme é uso dizer «para sugerir etimologias». Por mera ostentação, por pedantismo, por espírito de reacção; ou em virtude da preocupação mórbida que a queda de um h, a substituição de um y por i possa dissimular a origem de uma palavra!

Como se um escasso milhão de portugueses que lê e escreve fosse capaz de analisar, interpretar e historiar as evoluções e origens de homem, hoje, hontem (!), bocca, melhor do que as de ora, onra, falar, filosofia.

Quanto a erros e irregularidades provêem em grande parte, evidentemente, da pouca sabedoria filológica dos próprios autores, que não tinham (até há muito pouco) meios de se informar ràpidamente. Em parte da ignorância dos escribas. Os medievais estavam costumados a transladar e redigir documentos em latim bárbaro; e os do tempo dos humanistas a copiar epístolas cesaronianas, poemas vergilianos, em estilo clássico.

Depois da invensão civilizadora de Guttenberg muitos arcaísmos e pedantismos provieram da intervenção de oficiais de tipografias e de correctores, que julgando-se habilitados, não podendo alterar a bel prazer o estilo dos textos que compunham e corrigiam, lhes retocavam pelo menos a ortografia. Nem sempre exemplar, já o disse, e piamente o creio.

Nem todas as imprensas dispunham de artistas habilitados, e os preceitos da Mesa Censória não permitiam (salvo erro) que o próprio autor lesse provas e alterasse os dizeres de manuscritos aprovados.

Lembro que logo nos alvores da arte de imprimir, o conde de Alcoutim advertia o impressor Valentim de Morávia que as obras saídas dos seus prelos seriam melhores se não confiasse tanto nos seus oficiais - sentença que confirmará quem leu na edição príncipe a História de Vespasiano ou qualquer outra das obras, que devemos a esse impressor.

Quanto à introdução de vocábulos correctamente alatinados e helenizados, tenho-a, em si, em conta de obra meritória; obra de poetas e escritores exímios, impulsionados pelo louvável empenho de enriquecer e enobrecer a língua e altear o nível da cultura pátria com elementos da civilização da Antiguidade. Só Luís de Camões contribuiu com mais de um cento. Com respeito à grafia, lamento, isso, sim, que não se resolvessem logo, decididamente, a tirar aos neologismos que patrocinavam as caudas roçagantes e enfeitos excessivos, assemelhando-os, o mais possível, aos vocábulos antigos, verdadeiramente nacionais. Ainda assim, não vou tão longe como Gonçalves Viana que condena em absoluto as grafias eruditas deles como mera superstição e mero alarde de cultismo, porque me lembro de que ocupando um lugar à parte na economia da linguagem, não era de estranhar que lho quisessem dar também quanto à escrita. E compreender equivale a perdoar, também no campo filológico. De mais a mais sei que houve, da parte dos quinhentistas escritores e impressores, numerosas tentativas de nacionalizar os latinismos e grecismos. Nas duas edições primeiras de «Os Lusíadas» (de 1572) temos p. ex. hemispherio, emipherio, emisperio e emisferio; nymphas, nimphas, nimfas e ninfas; phantasia e fantasia (com fantesca); estilo, estillo e estilo; e de mistura com despautérios como occeano, formas bem aportuguesadas como linfa, vítima, diáfano, sulfúreo, grandíloco.
Hesitavam.
Os pósteros é que deveriam ter escolhido e entronizado as grafias mais sensatas, como fizeram em Espanha e na Itália.
Como ainda não o fizeram, façámo-lo nós. - Mais vale tarde do que nunca.