«Imaginem esta palavra phase, escripta assim: fase. Não nos parece uma palavra, parece-nos um esqueleto (...) Affligimo-nos extraordinariamente, quando pensamos que haveriamos de ser obrigados a escrever assim!»
Alexandre Fontes, A Questão Orthographica, Lisboa, 1910, p. 9.

sábado, março 03, 2012

ERREI - fim de semama

Como alguns dos leitores sabem, a gramática mudou. A chamada Gramática Tradicional deu lugar ao Dicionário Terminológico - DT - (tendo passado por duas versões da TLEBS - Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário).

No campo da morfologia, houve uma mudança radical no que toca à formação de palavras por composição. O que antes se chamava aglutinação e justaposição, dá pelo nome de composição morfológica e morfossintática, sem, contudo, haver uma correspondência entre os termos antigos e os novos.
Vejamos: No DT, a composição é descrita como o processo morfológico de formação de palavras que recorre à associação de duas ou mais formas de base. Em português, há dois tipos frequentes de composição: a composição morfológica e a composição morfossintáctica. (Cliquem nas hiperligações para mais informações.)


  • Composição morfológica é, pois, o processo de composição que associa um radical a outro(s) radical(is) ou a uma ou mais palavras. De um modo geral, entre os radicais ou o radical e a palavra associada ocorre uma vogal de ligação.
Exemplos
[agr]+i+[cultura] = [agricultura], [luso]+[descendente]= [lusodescendente], [psic]+o+[pata]

  • Composição morfossintática é, por outro lado, o processo de composição que associa duas ou mais palavras. A estrutura destes compostos depende da relação sintáctica e semântica entre os seus membros, o que tem consequências para a forma como são flexionados em número.
Exemplos
As palavras [surdo-mudo], [guarda-chuva] ou [via láctea] são compostos morfossintácticos.

NOTA: Em ambos os casos, o significado dos radicais ou das palavras que compõem a palavra mantém-se.

Ex: lusodescendente
luso + descentente
Se procurarmos no dicionário o significado do radical "luso" e o da palavra "descendente", encontramos: português + que descende, pelo que podemos inferir o seu significado facilmente - alguém que descende de portugueses.

Mas...
Se procedermos da mesma forma para a palavra amor-perfeito, o mesmo não se verificará.
Amor = afeto, adoração + perfeito = sem defeito, exemplar
Este significados não refletem em nada a plantaherbácea com flores de corola larga de várias cores a que no queremos referir.

Por isso...
Palavras como "malmequer", "claraboia", "língua da sogra", " fim de semana" em que não é possível deduzir o seu significado a partir dos elementos que as constituem são. palavras com estrutura complexa, mas que, quanto ao significado, se assemelham a palavras simples.

Qual foi o meu erro, afinal?
Quando expliquei que "fim de semana" era uma locução e que, com o novo Acordo Ortográfico, perdia os hífens, classifiquei-a de composto morfossintático.
Nesta perspetiva, tratar-se-á de uma palavra simples ou de um composto? Na TLEBS falava-se em palavras lexicalizadas!

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