«Imaginem esta palavra phase, escripta assim: fase. Não nos parece uma palavra, parece-nos um esqueleto (...) Affligimo-nos extraordinariamente, quando pensamos que haveriamos de ser obrigados a escrever assim!»
Alexandre Fontes, A Questão Orthographica, Lisboa, 1910, p. 9.

sexta-feira, março 30, 2012

Meio-dia e meia

É comum ouvir-se a expressão "meio-dia e meio" para referir as 12:30 horas.
O correto será dizer "meio-dia e meia", pois não é «meio-dia e mais meio dia», mas sim «meio-dia mais meia hora».

sexta-feira, março 09, 2012

"Mais bem" e "melhor"


Às vezes, quando uso a expressão «mais bem», dou por mim a reparar na cara de espanto dos meus interlocutores. Sei que causa estranheza para muitos,mas vou tentar explicar o seu uso.
A maioria das pessoas opta por usar «melhor», por considerar uma solução mais correta ou, na dúvida, mais segura.
Vejamos:

1.      "Melhor" corresponde ao comparativo de superioridade do adjectivo “bom” e do advérbio “bem”. É uma forma irregular, tal como “maior” em relação a “grande.

2.      O adjectivo “bom” não admite a forma regular do grau comparativo e superlativo:
             Não podemos dizer “mais bom do que” nem “o mais bom”.
 
3.      O advérbio “bem” admite ambas as formas (“melhor” e “mais bem”) dependendo da frase.

3.1. Quando o advérbio “bem” modifica o verbo, deve usar a forma irregular do comparativo (melhor):
Ex.: Eu danço bem, mas o José dança melhor.

 3.2. Quando o advérbio “bem” modifica um adjetivo participial (que resulta do Particípio Passado de um verbo) já não deve flexionar no grau comparativo ou superlativo irregular:
Ex.: Apesar do José dançar melhor, eu estou mais bem preparada do que ele.

terça-feira, março 06, 2012

pôr do sol em Angola

Agora que o verão se despede dos trópicos, os angolanos adoram abrir a geleira, tirar uma Cuca geladinha e comer ginguba à beira-mar!

Quem discute a beleza e a variedade da língua portuguesa com base num mero acordo ortográfico (sublinho ortográfico), não percebe que a língua é muito mais que uma convenção gráfica.


estória ou história

Ontem, alguns alunos ficaram surpreendidos por ter escrito a palavra "estória" em vez de "história". Pois bem, nos dicionários encontramos as duas entradas, mas prefiro a primeira para designar uma narração.
Vejam as definições encontradas na infopédia .

estória: nome feminino
história de carácter ficcional ou popular; conto, narração curta
(De história, ou do inglês story, «id»)

história: nome feminino
1. evolução da humanidade
2. narração crítica e pormenorizada de factos sociais, políticos, económicos, militares, culturais ou religiosos, que fazem parte do passado de um ou mais países ou povos
3. sucessão natural desses mesmos acontecimentos
4. ramo do conhecimento que se ocupa do estudo do passado, da sua análise e interpretação
5. estudo da origem e do progresso de uma ciência, arte, ou área de conhecimento
6. narrativa; conto
7. biografia
8. LINGUÍSTICA conjunto das ações e das situações representadas num texto narrativo;

segunda-feira, março 05, 2012

A Vírgula

Anúncio sobre a liberdade de imprensa que mostra como uma simples vírgula pode alterar a história. Agência: Africa Sao Paulo Publicidade Ltda. Produtora: Visorama Diversões Eletrônicas Áudio: Sonido Produções Musicais

Tolerância de ponto ou tolerância de ponte

Agora que o Carnaval já lá vai e a "tolerância de ponto" também, relembremos um erro muito comum.
Quem nunca ouviu dizer "tolerância de ponte" em vez de "tolerância de ponto"?

Creio que a confusão ocorre porque é costume chamar-se "ponte" à ligação entre um feriado e um fim de semana, em que alguns (generosos) patrões  concedem folga aos seus funcionários, ou seja, "tolerância de ponto".
Esta expressão tem a sua origem nos "livros de ponto"onde os funcionários registavam as suas horas de entrada e saída do emprego (antes dos computadores e dos cartões...de ponto). A "tolerância de ponto" dispensava-os de assinar os livros durante um período estabelecido pela entidade patronal.

Trocar ou destrocar?

Mesmo em época de crise,por vezes precisamos de converter uma nota em moedas, não é?
Será que deveremos dizer:
 "Trocas-me esta nota?" ou  "Destrocas-me esta nota?"

Nesta altura, já todos se consciencializaram de que dizem várias vezes "destrocas-me", certo?

No entanto,  devemos usar o verbo trocar porque destrocar significa "desfazer uma troca".

- Trocas-me esta nota por moedas?
- Vou destrocar esta compra. (Anular a troca anterior)


Fim de semana (outra vez)

Como não fiquei convencida com a primeira explicação sobre " fim de semana" fui procurar outras explicações. Encontrei esta no Ciberdúvidas.

[Resposta] As palavras fim de semana, cor de vinho ou fios de ovos continuam a ser compostos.
Se o hífen não é critério para distinguir palavras derivadas de palavras compostas (infeliz vs. guarda-roupa, mas pré-história, com prefixo), então também não o deve ser para rejeitar fim de semana como palavra composta. Por outras palavras, há expressões que contêm elementos de ligação, não têm hífen e são também compostos — morfossintáticos, como neste caso. Note-se que o próprio Dicionário Terminológico apresenta como composta uma expressão sem elemento de ligação como via láctea (muito embora se trate de palavra tratada como nome próprio, que exige maiúsculas iniciais: Via Láctea — cf. Dicionário Houaiss).
Esta situação dificulta, sem dúvida, o reconhecimento de tais compostos, porque passam a confundir-se com outras expressões que não se usam como unidades lexicais, mantendo a sua composicionalidade (isto é, a autonomia semântica dos seus elementos; cf. pôr do sol, palavra composta vs. «livro do rapaz», expressão constitutiva de um grupo nominal em «o livro do rapaz caiu ao chão»).
Sei, contudo, que a prática lexicográfica (ver Dicionário Houaiss de 1999) leva a que estes compostos que incluem preposições não tenham entrada própria, mas apareçam como subentrada de uma das palavras constituintes: ou seja, o composto fim de semana encontra-se no verbete correspondente a fim ou a semana. Não é assim, porém, que o Vocabulário Ortográfico do Português os elenca, antes lhes atribuindo entrada própria.
Em suma, os compostos não hifenizados que incluam preposições ou outros elementos de ligação (pôr do sol, dia a dia) e não designem espécies botânicas ou zoológicas são palavras compostas. Em contexto escolar, será, pois, necessário ter em conta que há compostos que, por se escreverem sem hífen, se confundem com grupos sintáticos.

Carlos Rocha:: 10/02/2012

Agradeço a vossa ajuda para melhor compreender este assunto tão polémico!

sábado, março 03, 2012

Publicações sobre o Acordo Ortográfico de 1990

Descarregue para o seu computador cinquenta documentos (apresentações, textos, brocuras) sobre o novo Acordo Ortográfico.
SuperBiblioteca de Ebooks sobre o Acordo Ortográfico - Edição Portugal

Neste momento estão disponíveis duas edições da SuperBiblioteca:
- a
edição 'Portugal' e
- a
edição 'Brasil'

Pode também quererer consultar:
Acordo Ortográfico - guias e utilidades

ERREI - fim de semama

Como alguns dos leitores sabem, a gramática mudou. A chamada Gramática Tradicional deu lugar ao Dicionário Terminológico - DT - (tendo passado por duas versões da TLEBS - Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário).

No campo da morfologia, houve uma mudança radical no que toca à formação de palavras por composição. O que antes se chamava aglutinação e justaposição, dá pelo nome de composição morfológica e morfossintática, sem, contudo, haver uma correspondência entre os termos antigos e os novos.
Vejamos: No DT, a composição é descrita como o processo morfológico de formação de palavras que recorre à associação de duas ou mais formas de base. Em português, há dois tipos frequentes de composição: a composição morfológica e a composição morfossintáctica. (Cliquem nas hiperligações para mais informações.)


  • Composição morfológica é, pois, o processo de composição que associa um radical a outro(s) radical(is) ou a uma ou mais palavras. De um modo geral, entre os radicais ou o radical e a palavra associada ocorre uma vogal de ligação.
Exemplos
[agr]+i+[cultura] = [agricultura], [luso]+[descendente]= [lusodescendente], [psic]+o+[pata]

  • Composição morfossintática é, por outro lado, o processo de composição que associa duas ou mais palavras. A estrutura destes compostos depende da relação sintáctica e semântica entre os seus membros, o que tem consequências para a forma como são flexionados em número.
Exemplos
As palavras [surdo-mudo], [guarda-chuva] ou [via láctea] são compostos morfossintácticos.

NOTA: Em ambos os casos, o significado dos radicais ou das palavras que compõem a palavra mantém-se.

Ex: lusodescendente
luso + descentente
Se procurarmos no dicionário o significado do radical "luso" e o da palavra "descendente", encontramos: português + que descende, pelo que podemos inferir o seu significado facilmente - alguém que descende de portugueses.

Mas...
Se procedermos da mesma forma para a palavra amor-perfeito, o mesmo não se verificará.
Amor = afeto, adoração + perfeito = sem defeito, exemplar
Este significados não refletem em nada a plantaherbácea com flores de corola larga de várias cores a que no queremos referir.

Por isso...
Palavras como "malmequer", "claraboia", "língua da sogra", " fim de semana" em que não é possível deduzir o seu significado a partir dos elementos que as constituem são. palavras com estrutura complexa, mas que, quanto ao significado, se assemelham a palavras simples.

Qual foi o meu erro, afinal?
Quando expliquei que "fim de semana" era uma locução e que, com o novo Acordo Ortográfico, perdia os hífens, classifiquei-a de composto morfossintático.
Nesta perspetiva, tratar-se-á de uma palavra simples ou de um composto? Na TLEBS falava-se em palavras lexicalizadas!

sexta-feira, março 02, 2012

Erros na TV

Infelizmente, a TV também erra.
No monitor lê-se «esterno» em vez de «externo».
Se consultarmos o dicionário Priberam online, ficamos a saber:
Esterno |é|
(grego stérnon, -ou, peito)   
s. m.
1. [Anatomia]    Osso ímpar situado na parte anterior do peito, e em que se articulam as costelas e as clavículas.
2. [Zoologia] Linha média e inferior do tronco dos ..insetos.


 Externo |eis|
(latim externus, -a, -um, exterior, estrangeiro, estranho)   
adj.
1. Que é de fora. = EXTERIOR
2. Que aparece exteriormente.
3. De país estrangeiro ou relativo ao estrangeiro.
4. Que se aplica por fora.
5. [Figurado] Fingido; aparente.
s. m.
6. Aluno que não dorme nem come no colégio que frequenta.ta.
ângulo externo: o que tem o vértice para dentro.

Hás de

Um erro muito frequente no discurso oral é  a expressão *«hádes», em vez do correto «hás de» (agora sem hífen).

Trata-se de o verbo «haver», conjugado com a preposição «de».


Costumo aproveitar o erro para brincar um pouco e explicar que Hades (ou Plutão) era o deus do mundo subterrâneo, destino final dos mortos!