«Imaginem esta palavra phase, escripta assim: fase. Não nos parece uma palavra, parece-nos um esqueleto (...) Affligimo-nos extraordinariamente, quando pensamos que haveriamos de ser obrigados a escrever assim!»
Alexandre Fontes, A Questão Orthographica, Lisboa, 1910, p. 9.

segunda-feira, novembro 17, 2014

Legionela

Sobre um tema, infelizmente, muito atual  reproduzo a resposta do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

Legionela, (escrito) em português

Em Portugal, um surto da doença do legionário (ou «doença dos legionários» ou, ainda, legionelose) na região de Lisboa, mais precisamente em Vila Franca de Xira, trouxe para a atualidade a grafia da Legionella pneumophila. Na página da Direção-Geral de Saúde, a informação disponível explica que a doença é «causada por bactérias do género Legionella», nome de configuração latina, como acontece na elaboração de terminologias científicas, sobretudo nas taxonomias da Biologia.
Por seu lado, os meios de informação portugueses têm-se referido à bactéria pelo género a que pertence na taxonomia, Legionella, ou pela sua espécie, Legionella pneumophilla (na imagem, à direita)1, nem sempre em itálico como deveriam, de modo a assinalá-las como palavras não portuguesas; outras vezes, ocorre o itálico, mas o termo que designa o género (Legionella) aparece com minúscula inicial, ao contrário do que é usual nos nomes científicos (táxones).
Ora, a palavra tem, há muito, feição portuguesa: legionela — tal como o registam o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, o Dicionário de Termos Médicos da Infopédia, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora (igualmente disponível na Infopédia) e o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Nestas duas últimas fontes, salienta-se que os termos «doença dos legionários» e Legionella/legionela têm origem em criações da língua inglesa, alusivas ao facto de a afeção em causa ter sido diagnosticada pela primeira vez em membros da American Legion («Legião Americana»), na sequência de um encontro realizado em junho de 1976, na cidade norte-americana de Filadélfia. O termo Legionella refere precisamente os protagonistas dessa situação, porque deriva do latim legio, legionis, ou seja, «legião».
O termo Legionella (termo científico) pode, portanto, ser substituído por legionela em textos que não requeiram o mesmo grau de especialização que um artigo científico.
1 Estes nomes científicos fazem parte das "Approved Lists of Bacterial Names", publicadas em janeiro de 1980, no International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, publicação oficial para registo dos nomes de bactérias definidos pelo International Committee on Systematics of Prokaryotes (ICSP). Acerca de nomes para outros reinos na perspetiva taxonómica, ler a resposta Nomes científicos dos animais, de Gonçalo Neves.

sábado, abril 12, 2014

Intervir

O verbo mais mal tratado na Assembleia da República (sobretudo no Pretérito Perfeito do Indicativo)

intervim
intervieste
INTERVEIO
interviemos
interviestes
intervieram

Deputado por Braga interviu na audição ao Ministro das Finanças (fonte: http://psddistritalbraga.blogspot.pt/2011/12/deputado-por-braga-interviu-na-audicao.html)

quinta-feira, abril 10, 2014

Hades vs hás de


Hás de é a segunda pessoa do singular do presente do indicativo do verbo haver com a preposição de. Neste caso, o verbo haver é auxiliar, conjugado em todas as pessoas, e significa «ser obrigado a; pretender; desejar».
A palavra Hades existe, mas escreve-se com maiúscula, e é o nome do deus dos infernos, na mitologia grega.

(Fonte do texto: Dúvidas da Língua Portuguesa, Porto Editora)

quarta-feira, março 05, 2014

Kilómetros

O jornal Público solicita aos seus colaboradores o preenchimento de um mapa de "Kilómetros" percorridos em viatura própria. Será que não queriam dizer "quilómetros"? O símbolo é Km, mas a palavra é quilómetro.
Não venham culpar o Acordo Ortográfico de 1990!

Relembro a este propósito:
Alfabeto (Base I)
As letras k, w e y foram incorporadas ao alfabeto.
O alfabeto passa a ter 26 letras: a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k, l, m, n, o, p, q, r, s, t, u, v, w, x, y, z.

 As letras k, w e y são usadas em casos especiais:
  • em nomes • de pessoas de origem estrangeira e seus derivados: Kant, kantismo; Darwin, darwinismo; Byron, byroniano.
  • em nomes geográficos próprios de origem estrangeira e seus derivados: Kuwait, kuwaitiano; Malawi, malawiano; Okinawa, okinawano; Seychelles, seychellense.
  • em siglas, símbolos e palavras adotadas como unidades de medida: www (World Wide Web); K (símbolo químico de potássio); W (de west, oeste); kg (quilograma); km (quilômetro); kW(kilowatt), yd (de yard, jarda).

domingo, fevereiro 02, 2014

Ringue vs rinque

Fonte: http://mulher.sapo.pt/

Rinque - designa o recinto plano e resguardado para a prática de patinagem (do inglês rink).

Ringue - designa o estrado quadrado, geralmente cercado por cordas, para a prática de boxe, luta livre ou de outros desportos (do inglês ring)

sexta-feira, janeiro 31, 2014

Fluorescente vs florescente

 As lâmpadas estão em flor e ainda não é primavera!


O adjetivo fluorescente provém do latim fluorescente (particípio presente de fluorescere) e significa " que tem propriedades de fluorescência; que tem cor luminosa."

  • Lâmpadas fluorescentes.
O adjetivo florescente provém do latim florescens e significa "que floresce, que está em flor" e, em sentido figurado, que prospera, que tem vigor".
  • Canteiros florescentes.



Octogenário vs octagenário



Este título do Jornal de notícias  e a peça da SIC apresentam um erro muito comum. 
Deve escrever-se "octogenário" e não "octagenário".
Octogenário - do latim octogenariu, designa alguém que se encontra na faixa etária dos oitenta anos. 


sábado, janeiro 04, 2014

c, ç, s ou ss

Encontrado numa grande superfície comercial!
 
c, ç, s ou ss
 
O uso destas consoantes oferece muitas dúvidas, uma vez que representam graficamente o mesmo som /s/. Embora o uso de uma ou outra consoante dependa da raiz da palavra, existem algumas regras que podem ajudar:
 
1. O c só tem o valor de /s/ com as vogais e e i. Para as restantes usa-se ç.
 Ex. acém, ácido
      açafrão, açorda, açúcar
 
2. O ç e os dois ss não existem em início de palavras e, por isso, nesta posição só podem aparecer:
S – antes de todas as vogais – ex. sapato, ser, sino, sol, suar
C – apenas antes de e ou i – ex. cenoura, civil
 
3. O s entre vogais tem sempre o som /z/, por isso, nas palavras derivadas e compostas formadas a partir de uma palavra com s em posição inicial, tem de se dobrar o s, escrevendo-se ss.
 Ex.
Sala – antessala
Seguir – prosseguir
Sol – girassol
Soma – cromossoma
 
4. Os dois ss só aparecem entre vogais.
 Ex. passar; pessoa
 
5. O sufixo de naturalidade –ense escreve-se com s.
 Ex. aveirense, farense, leiriense
 
6. O superlativo absoluto sintético terminado em –íssimo escreve-se com dois ss.
 Ex. atrasadíssimo, fortíssimo
 
7. O sufixo feminino –essa escreve-se com dois ss.
 Ex. abadessa, condessa
 
8. Há sufixos usados com muita frequência que se escrevem com c ou ç
 
Sufixos
Sentido
Exemplos
-aça, -aço, -uça
Aumento, grandeza
Arruaça, mulheraça, dentuça
-aço, -aça
Abundância, ajuntamento, intensidade
Vinhaça, bagaço, melaço
- açar
Repetição ou realização frequente
Espicaçar, escorraçar, esvoaçar, adelgaçar
- áceo
Relativo a, semelhante
Galináceo, herbáceo, farináceo, rosáceo
-ção, -ança, -ença, -ância, -ência
Acção, resultado da acção, estado
Criação, fundição, mudança, lembrança, crença, diferença, tolerância, concorrência
-ecer
Começo de acção ou passagem a um estado
Emudecer, entristecer, anoitecer
-iça, -iço, -ice, -ícia, -ície
Qualidade, estado, tendência para
Justiça, preguiça, movediço, alagadiço, doidice, malícia, imundície, calvície
-ício
Referência, matéria
Natalício, alimentício
 


Palíndromo

Um palíndromo é uma palavra ou um número que se lê da mesma maneira nos dois sentidos, normalmente, da esquerda para a direita e ao contrário.
 Exemplos: OVO, OSSO, RADAR.

O mesmo se aplica às frases, embora a coincidência seja tanto mais difícil de conseguir quanto maior a frase; é o caso do conhecido:

 ANOTARAM A DATA DA MARATONA
 Diante do interesse pelo assunto (confesse, já leu a frase ao contrário)!


Vejam outros:
  •  ASSIM A AIA IA A MISSA
  •  A DIVA EM ARGEL ALEGRA-ME A VIDA
  •  A DROGA DA GORDA
  •  A MALA NADA NA LAMA
  •  A TORRE DA DERROTA
  •  LUZA ROCELINA, A NAMORADA DO MANUEL, LEU NA MODA DA ROMANA: ANIL É COR AZUL
  •  O CÉU SUECO
  •  O GALO AMA O LAGO
  •  O LOBO AMA O BOLO
  •  O ROMANO ACATA AMORES A DAMAS AMADAS E ROMA ATACA O NAMORO
  •  RIR, O BREVE VERBO RIR

Tautologia

Tautologia é o termo usado para definir um dos vícios e erros mais comuns de linguagem.
Consiste na repetição de uma ideia, de maneira viciada, com palavras diferentes, mas com o mesmo sentido....
O exemplo clássico é o famoso ' subir para cima ' ou o ' descer para baixo ' . Mas há outros, como pode ver na lista a seguir:
- elo de ligação
- acabamento final
- certeza absoluta
- quantia exacta
- nos dias 8, 9 e 10, inclusive
- juntamente com
- expressamente proibido
- em duas metades iguais
- sintomas indicativos
- há anos atrás
- vereador da cidade
- outra alternativa
- detalhes minuciosos
- a razão é porque
- anexo junto à carta
- de sua livre escolha
- superavit positivo
- todos foram unânimes
- conviver junto
- facto real
- encarar de frente
- multidão de pessoas
- amanhecer o dia
- criação nova
- retornar de novo
- empréstimo temporário
- surpresa inesperada
- escolha opcional
- planear antecipadamente
- abertura inaugural
- continua a permanecer
- a última versão definitiva
- possivelmente poderá ocorrer
- comparecer em pessoa
- gritar bem alto
- propriedade característica
- demasiadamente excessivo
- a seu critério pessoal
- exceder em muito .

Note que todas essas repetições são dispensáveis.
Por exemplo, ' surpresa inesperada '. Existe alguma surpresa esperada?
É óbvio que não.
Devemos evitar o uso das repetições desnecessárias.
Fique atento às expressões que utiliza no seu dia-a-dia.